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Fitness

Até nos exercícios físicos é o cérebro quem comanda

Conheça os estudos mais recentes que demonstram a importância da mente na preparação física e na alta performance esportiva.

 29 de setembro de 2016
7 min de leitura

Como exercitar a sua mente

Sabe aquele dia em que você dormiu mal, trabalhou bastante, teve um monte de reuniões cansativas e tudo o que você quer é ir para casa e descansar? Aí você pensa: hoje se eu não for à academia tudo bem, afinal nem vou render nada mesmo, certo? Errado! Estudos comprovam que estressar a mente e fazer com que ela chegue a fadiga pode ser uma boa forma de ensinar ao corpo a lidar melhor com o esforço exigido durante o exercício e, com isso, obter melhores resultados.

Um dos maiores defensores da teoria é o professor Samuela Marcora, da Escola de Esportes e Ciência do Exercício da Universidade de Kent, no Reino Unido. E ele tem motivos para acreditar no que diz. Recentemente, o professor realizou um trabalho com 35 soldados que se exercitavam três vezes por semana em bicicletas ergométricas. Todos pedalavam pelo mesmo tempo e intensidade, com a diferença que metade deles teve que participar de jogos de combinação de palavras enquanto pedalavam. Doze semanas depois, os soldados passaram por um teste no qual eles tinham que praticar atividades físicas até a exaustão. O resultado? Aquele grupo que realizou o exercício de pedal junto aos jogos de combinação de palavras conseguiu um desempenho três vezes melhor! Segundo o pesquisador, isso aconteceu porque o grupo foi treinado para tolerar um estímulo maior por enfrentar dois tipos de exercício e quando o trabalho mental saiu de cena, todo a capacidade de aguentar o esforço foi direcionada para o físico, tornando-os mais resistentes.

Usando uma metáfora, seria como se um atleta treinasse para correr utilizando tornozeleiras com um peso de cinco quilos. Ao tirar os pesos, ele se sentiria muito mais leve e provavelmente teria um desempenho melhor. Já a explicação cientifica é que o trabalho intelectual estimula uma área do cérebro que está ligada ao esforço e que leva à liberação de adenosina, substância que entra em cena quando passamos por fadiga mental. Trabalhando isso a longo prazo, o corpo se acostuma a trabalhar nesse cenário de fadiga e quando é submetido a um esforço em condições normais, o desempenho melhora!

A mente no controle

A mente no controle do corpo

É importante ressaltar que esses estudos são ainda bastante novos e que o fato de fadigar a mente ao mesmo tempo em que exercita o corpo para melhorar a performance pode ser um bom instrumento para aqueles atletas que já são mais “veteranos”. Para iniciantes, somente aumentar a intensidade dos treinos já é o suficiente para melhorar gradativamente a performance.

Por isso, o mais importante em relação ao estudo, é entender que a mente é a principal ferramenta para o nosso desempenho físico e, por isso, para ganhar músculos e resistência é muito importante que você desenvolva também a sua força mental.

No último congresso do Colégio Americano de Medicina no Esporte, Roger M. Enoka, professor do Departamento de Fisiologia Integrativa da Universidade do Colorado (EUA), mostrou o quanto o desempenho em exercícios físicos fatigantes depende do estado psicológico do atleta tanto quanto do estado físico.

“Corro um enorme risco em dizer isso, mas, de fato, acredito que o alto desempenho esportivo depende em 100% de condições psicológicas adequadas. Claro que depende também em 100% das condições físicas, técnicas e táticas necessárias ao alto rendimento, mas penso que o fator psicológico vem se mostrando cada vez mais preponderante, inclusive pelo fato de, no alto nível, as preparações nos demais âmbitos serem bastante parecidas”, concorda Gabriel Puopolo de Almeida, psicólogo do esporte e que atua em equipes de alto desempenho no futebol e em diversas outras modalidades.

A mente é um importante instrumento e, quando não está totalmente preparada para suportar a carga emocional de uma competição, este descompasso se reflete automaticamente no resultado e na performance esportiva.“A gente pode entender isso pelo fato de que apenas quando há um estado emocional e cognitivo propício é que o atleta consegue colocar em prática tudo o que executa”, complementa Gabriel.

Preparo psicológico e autoconhecimento

Mas, se no esporte de alto rendimento o preparo psicológico já é uma realidade, o que podemos dizer dos atletas amadores? Será que há também a necessidade de um preparo psicológico? Na opinião do psicólogo a resposta é sim. Apesar de objetivos diferentes do esporte de alto rendimento, o atleta amador também necessita preparar sua mente para definir e cumprir metas. “O mais importante, nesses casos, é um dimensionamento adequado das intenções do praticante. O que ele espera atingir, quais são as condições (materiais, de tempo, etc.) que possui para isso e quais são os benefícios que pretende extrair da sua prática. A psicologia do esporte está presente em todos os tipos de prática física e, para amadores, não seria diferente”, explica.

É aí que o autoconhecimento se torna essencial a fim de compreender que a mente e o corpo não são separados, mas são diferentes expressões da mesma coisa: a vida humana. O que ocorre na mente, ocorre no corpo e vice-versa. Por isso, o esporte é uma maneira bastante interessante de se trabalhar a consciência de si mesmo.

Seja para competir em alto nível, seja para praticar seu esporte favorito, o preparo mental e o autoconhecimento são tão importantes quanto a boa forma para que você possa alcançar os objetivos a que se propôs.

Por isso, usar o esporte como uma forma de melhor de autoconhecer e, vice-versa, usar o autoconhecimento dos limites do seu corpo para melhorar o seu desempenho esportivo, é um círculo virtuoso que todos aqueles que encaram uma atividade esportiva deveriam experimentar.

Sobre o estudo citado no início da matéria, pode ser uma boa opção a para atletas mais experiente e que estão querendo testar uma nova forma de obter melhores resultados esportivos. Por isso, não custa tentar seguir algumas dicas simples, como tentar resolver pequenas equações matemáticas no momento final de um treino por repetidas vezes e ver como o seu corpo se comporta quando não for submetido a esse esforço extra. Certeza de resultado? Isso ninguém ainda pode provar, mas na pior das hipóteses, você vai ficar afiado na matemática e com a mente ainda mais ágil!

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Rê Spallicci