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Diversidade & Inclusão

Revolução de 1932: participação das mulheres abriu frente para novas conquistas

Por que é tão importante contarmos as histórias das mulheres que vieram antes de nós nas conquistas femininas

 9 de julho de 2020
5 min de leitura

Revolução de 1932: participação das mulheres abriu frente para novas conquistas

Em 9 de julho se celebra, em São Paulo, o aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932. E assim como acontece com praticamente toda a história que conhecemos, há uma série de heróis que representam a revolução. Dos estudantes mártires, MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo), até combatentes sempre lembrados em homenagens, os homens são sempre protagonistas da luta que levou à Constituição de 1933.

Mas o que quase nunca se fala é sobre as heroínas da revolução: mulheres que tiveram participação decisiva no período, e que, se não lutaram no front, foram essenciais nos trabalhos com armamentos, de socorro a tropas, e mudaram definitivamente a história dos direitos femininos no Brasil.

Histórias não faltam

Histórias não faltam

E não é por falta de histórias que as mulheres não são lembradas na Revolução de 1932. Para início de conversa, temos a história de duas Marias que foram essenciais ao movimento.

Maria José Barroso era uma mulher negra que trabalhava como cozinheira. Quando a Revolução começou, ela foi incorporada ao destacamento militar da legião negra e, voluntariamente, passou a pegar em armas na cidade de Buri. Ficou conhecida como “Maria Soldado”. Depois da Revolução, Maria Soldado voltou a trabalhar como cozinheira. Vendia bolos em frente ao Hospital das Clínicas e morreu pobre na Rua da Consolação, em 1958. Seus restos mortais são os únicos de uma mulher combatente depositados no obelisco “Mausoléu aos Heróis de 32”, no Ibirapuera. 

Maria Stela Rosa Sguassábia era professora e se infiltrou nas tropas, após ver um soldado desertar. Foi autorizada pelo comandante do batalhão, Romão Gomes, a permanecer na luta. Um preso por Sguassábia se envergonhou com o fato de ela ser mulher, conta o historiador Rodrigo Gutenberg, presidente do conselho fiscal da Sociedade Veterana de 1932. Segundo ele, Gomes, então, teria dito ao detido que ele estava sendo preso por um de seus melhores soldados. 

Mas, além das mulheres que estiveram no front, há várias outras histórias de mulheres que estiveram à frente de entidades que foram essenciais para a revolução. Pérola liderava a Cruzada Pró-Infância –entidade filantrópica formada e dirigida por mulheres que prestavam assistência médica, social e sanitária a mulheres e gestantes. Durante o período em que duraram os conflitos, confeccionava ataduras e peças de roupas para os soldados e prestava assistência às famílias de combatentes.

Assim como a Cruzada, outras organizações de mulheres também prestaram serviços essenciais para o movimento revolucionário, como a Liga das Senhoras Católicas que ajudou mais de 100 mil pessoas, serviu 180 mil refeições, confeccionou 80 mil fardas e 60 mil compressas e ataduras.

Gutenberg conta que, na faculdade de engenharia da USP, as mulheres foram chamadas a fazer cartuchos e capacetes e se tornaram símbolo da campanha do ouro, doando as alianças para arrecadar fundos. E ainda há muitas outras histórias de Mulheres na Revolução de 32 que historiadores vêm descobrindo e dando maior luz a este importante período do Brasil.

A importância da participação feminina

No entanto,  mais do que resgatar a história, entender a participação da mulher na revolução de 32 é essencial para compreendermos o papel da mulher na própria cidadania no Brasil. Lembremos que até a Constituição de 1934, deflagrada muito por força da revolução de 1932, a mulher não era considerada uma cidadã.

Foi em 1934 que as mulheres conquistaram seus primeiros direitos com a proibição de diferenças de salários para um mesmo trabalho por motivo de sexo, a proibição do trabalho de mulheres em indústrias insalubres e a garantia de assistência médica e sanitária à gestante e descanso antes e depois do parto, através da Previdência Social.

E apenas três anos depois, conquistamos o direito ao voto!  

As conquistas das mulheres ao longo das constituições do Brasil

Como defensora das causas femininas e sempre na luta pela igualdade de gênero, acredito ser fundamental que resgatemos sempre as histórias daquelas que vieram antes de nós, pois nossa jornada de conquista é pavimentada passo a passo e com o esforço de diversas heroínas pouco lembradas pelas histórias contadas normalmente pelos homens!

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Rê Spallicci