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Gestão e Liderança

O que é a Comunicação não violenta e por que ela pode ser essencial no mundo em que vivemos

Teoria elaborada por Marshall Rosenberg pode trazer mais empatia para um mundo dominado pela violência verbal

 6 de fevereiro de 2020
7 min de leitura



Nesta semana, li uma história, em uma reportagem da BBC News, que me chocou: em 2012, uma menina de 15 anos estava se sentindo linda! Era uma confraternização da família, ela estava toda arrumada e, ao colocar de brincadeira os óculos de um primo, se sentiu ainda mais bonita e especial. Para eternizar o momento, tirou uma selfie e publicou em sua página do Facebook.

“A princípio, após publicar a selfie na rede social, a imagem ganhou likes de amigos da jovem. Mas dias depois, Débora notou que desconhecidos estavam compartilhando a fotografia. Os inúmeros compartilhamentos da selfie entristeceram Débora, pois ela descobriu que havia se tornado meme – como são chamadas as imagens de humor replicadas exaustivamente em redes sociais – em razão de sua aparência.”

Sim, Débora, uma menina negra, simples, havia virado motivo de chacota e uma representação de “mulher feia” no tribunal implacável das mídias sociais.

A jovem passou a não querer mais sair de casa, abandonou os estudos e tentou até se matar. Hoje, 7 anos depois, Débora se recuperou, mas as marcas do trauma ainda estão vivos em sua mente.

Como chegamos a isso?

Infelizmente, a história de Débora não é um caso isolado. Quantas crianças, adolescentes e adultos já foram julgados, humilhados, “cancelados” pela internet e tiveram as vidas afetadas? Mas o que nos levou a chegar a este ponto? Será a internet a grande vilã da história ou ela apenas amplificou nossos julgamentos e falta de empatia?

A jornalista Marina Jabur, com mais de 10 anos de experiência nas áreas de produção de conteúdo, assessoria de imprensa, relacionamento digital, endomarketing, relações institucionais e comunicação pública e, atualmente, assessora de comunicação na Secretaria de estado da Habitação do Governo de São Paulo, acredita que a falta de compaixão e intolerância nos relacionamentos sempre existiu. “A diferença é que, na era digital, ela foi amplificada, porque tudo o que é falado ou escrito nas plataformas digitais fica perpetuado e pode ser compartilhado, ou seja, as opiniões, pensamentos, julgamentos, críticas, fakenews podem alcançar e influenciar dezenas, centenas e até milhares de pessoas. Recentemente, o jornal Estadão publicou um artigo sobre o Facebook, no qual afirma que esta rede funciona como uma espécie de “praça pública global”, onde todos podem comentar, curtir, compartilhar. Além disso, as pessoas tendem a acreditar e a concordar com o que outras pessoas falam e comentam, muito mais do que o porta-voz oficial. Por isso, não raro, observamos que um único comentário agressivo pode desencadear uma avalanche de outras observações agressivas”, analisa.

A verdade é que vivemos um período de violência, não somente uma violência física, mas, principalmente, uma violência verbal, de gestos e posturas. E que vem causando  marcas profundas em nossa sociedade, deixando um rastro de intolerância, ressentimentos e raivas, transformando nosso dia a dia em um ambiente tóxico e doentio. Como, então, recuperar a empatia?

A comunicação não violenta como antídoto?

No início dos anos de 1960, durante o auge do movimento a favor dos direitos civis e contra a segregação racial, nos Estados Unidos, o psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg atuava como orientador educacional em instituições de ensino que eliminavam a segregação. O papel de Rosenberg, durante essa conturbada transição, era ensinar mediações e técnicas de comunicação. Nesse contexto, ele elaborou o método da Comunicação Não Violenta (CNV).

Rosenberg define a Comunicação Não Violenta como uma abordagem da comunicação, que compreende as habilidades de falar e ouvir, que leva os indivíduos a se entregarem de coração, possibilitando a conexão consigo  e com os outros, permitindo, assim, que a compaixão se desenvolva. Quanto à expressão Não Violenta, o psicólogo faz uso da definição de Gandhi,  referindo-se a uma condição compassiva natural que aparece quando a violência é afastada do coração.

A técnica é baseada em competências de linguagem e comunicação que auxiliam na reformulação da maneira como cada um se expressa e ouve os demais. O pesquisador propõe que, com a Comunicação Não Violenta (CNV), as respostas a estímulos comunicacionais deixem de ser automáticas e repetitivas e passem a ser mais conscientes e baseadas em percepções do momento, por meio da observação de comportamentos e fatores que têm influência sobre cada um. Por meio da escuta ativa e profunda, o método faz com que as interações ocorram com mais respeito, atenção e empatia, como defende o psicólogo.

“A grande lição da teoria de Rosemberg é exercermos a verdadeira empatia na comunicação. Muitas vezes, o que as pessoas dizem, falam e comentam estão carregados de julgamentos e juízos de valor, criando um bloqueio que impossibilita escutar de verdade. A conexão com o outro se perde e, com ela, também a compaixão. Acredito que a CNV é um exercício de autopercepção diário, até desafiador, mas que, praticado com frequência, pode se tornar um hábito”.

Como fazer a nossa parte?

Temos o hábito de jogar para o outro os comportamentos ruins e indesejáveis e, muitas vezes, não notamos que, levados pela emoção ou pelo efeito manada, nós também agimos de forma incorreta e contribuímos para julgamentos precipitados e linchamentos de reputações.  

Quantas vezes replicamos memes, notícias de fontes duvidosas ou até piadinhas sem nos colocar no lugar do outro, sem checar a veracidade da informação? Está também em nossas mãos aplicar uma comunicação não violenta no ambiente de trabalho, com nossos pais e filhos e em nossas relações sociais.

“Precisamos reaprender a praticar comunicação, se quisermos construir uma sociedade mais humana, pacífica e empática na qual o indivíduo, na beleza de sua diversidade, respeita, escuta e consegue estabelecer, de fato, uma conexão autêntica entre as pessoas que o cercam”, ensina Marina.

Agindo assim, autoquestionando nossos preconceitos e julgamentos, estabeleceremos relações mais profundas, saudáveis e afetivas, tendo como resultado uma sociedade mais humana.

Vamos encarar juntos este desafio?

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Rê Spallicci