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Diversidade & Inclusão

Neivia Justa: visibilidade para as mulheres no mercado de trabalho

A luta das mulheres para buscar a igualdade no mercado de trabalho

 19 de julho de 2018
8 min de leitura

Sem limites para as mulheres!

Lembro-me, hoje com reconhecimento da importância, de um dos momentos

mais difíceis e de maior aprendizado da minha vida: A separação dos meus pais.

Sabe aqueles momentos da nossa vida que amadurecemos 10 anos em meses?

Eu tive grandes lições e decisões de vida a partir daquele acontecimento.

Minha mãe havia perdido o companheiro, mas havia também perdido a pessoa que sempre cuidou de tudo para ela… Minha mãe, assim como muitas mulheres da sua geração tiveram uma criação que privilegiava o matrimonio, o cuidar da família e dos filhos em detrimento das carreiras. Em sua maioria não se questionavam sobre talentos, sobre realização. Apenas faziam aquilo que “era o certo”.

Uma importante lição

Protagonismo Feminino - Renata Spallicci

Mas como todas as dificuldades da vida nos deixam lições, aquela passagem fez com que eu aprendesse algo que mudou a minha trajetória para sempre. “Eu não quero repetir essa história para mim. Quero ser independente financeiramente e nunca depender de ninguém.”

Concentrei-me nos estudos, me formei, fui buscar meu espaço na empresa da minha família e me tornei uma executiva de sucesso.

O tempo passou e fui aprendendo no dia a dia que os ecos daquela educação recebida pela minha mãe estavam e estão presentes ainda hoje em nossa sociedade e, sobretudo, no mercado de trabalho.

Afinal, a minha geração, provavelmente a primeira ou segunda a entrar pra valer no mercado de trabalho, teve que seguir um modelo criado por homens e para homens. Não tínhamos lideranças femininas para nos inspirar, não havia um modelo para seguir… Fomos arregaçando as mangas, adaptando-nos e aprendendo a nos virar em um ambiente de certo modo hostil e que não foi criado para nós…

Masculinização para ser aceita

Se as mulheres não tinham em quem se espelhar e tinham que dançar conforme a música, elas foram se masculinizando. Cabelo curto e terninho monocromático foi o modelo básico das primeiras executivas de sucesso.

Lembro-me de que, em uma sessão de mentoria, recebi a seguinte dica: agora que você está ocupando uma posição de mais destaque na empresa, está na hora de cortar este cabelão! Oi?? Mas o que meu cabelo tem a ver com a minha atitude profissional?

Levei um tempo para perceber que para nós, mulheres, as regras são outras, e que há muito mais barreiras em nosso no caminho. Somos deliberadamente interrompidas quando falamos em reunião, precisamos nos provar a cada dia… Somos quase 52% da população brasileira, responsáveis por 80% das decisões de consumo no Brasil e ocupamos 60% das vagas nas universidades, mas não chegamos às posições de liderança! Por quê? O que podemos fazer a este respeito?

O despertar para a realidade

Protagonistas - Neivia Justa e Renata Spallicci

Pode parecer incrível, mas somos criadas de tal forma para aceitar esta desigualdade que levamos tempo para nos dar conta de quão errada está! Mas há alguns anos esta realidade começou a me incomodar e percebi que eu poderia ajudar outras mulheres expondo nossas angústias e lutando pelo nosso protagonismo. Devagarzinho, comecei a abordar o tema no meu blog, comecei dar voz a muitas mulheres por aqui e agora resolvi cria este espaço, o das Protagonistas.

E entre as mulheres que vejo como inspiração e que também escolheu esta missão, está Neivia  Justa. Ela é jornalista, marqueteira, empreendedora, mãe, e acima de tudo, uma porta-voz das mulheres no mercado de trabalho. Formada em Comunicação Social na Universidade do Ceará, em 1992, já foi apresentadora do jornal diário em sua cidade natal, colunista no jornal O Povo, e logo depois veio para São Paulo, onde entrou para o mundo corporativo.

Em 2016, Neivia também passou a se sentir profundamente incomodada com a nossa falta de representatividade em todos os setores da sociedade. “Comecei a imaginar o que pensaria um marciano que chegasse ao Brasil e  visse as matérias e notícias nos nossos veículos de comunicação, os posts e vídeos nas nossas redes sociais, nossos anúncios e campanhas publicitárias, a programação e os palestrantes dos nossos eventos, ilustrados em sua imensa maioria por figuras masculinas. Juntando isso ao desolador prognóstico de que levará no mínimo 80 anos para que nossas mulheres estejam em condições de igualdade com os homens, decidi fazer o que estava ao meu alcance para ajudar a dar luz a essa questão”, relata em um artigo.

#ondeestãoasmulheres

Deste incômodo, Neivia  iniciou uma curadoria de conteúdo de matérias, posts, anúncios, capas de revistas, eventos, entre outros, que evidenciassem a predominância, quase totalitarismo do viés de gênero masculino com que representamos nossa sociedade. “Usando meu celular, comecei a fotografar essas imagens, criei uma fanpage no Facebook, a hashtag #ondeestãoasmulheres, e passei a fazer um post por dia nas minhas redes sociais – LinkedIn, Instagram, Twitter e Facebook”, revela.

Logo o movimento começou a se espalhar e mobilizar uma legião de pessoas que sentiam o mesmo desagrado de  Neivia, mas que talvez não soubessem comunicar seu sentimento. “Também teve o poder de começar a dar visibilidade  à questão para outros que não percebiam isso.  Além de incomodar aqueles que insistiam  em negar as evidências e em reafirmarem seus pontos de vista de que isso não acontecia”,  explica.

#aquiestãoasmulheres  

Nesta jornada, Neivia  percebeu que mais do que  fomentar a discussão do assunto e, assim, ajudar a acelerar a mudança em prol da real representatividade feminina na sociedade brasileira, era necessário mostrar e promover os exemplos já existentes de lideranças femininas e aumentar a visibilidade da nossa representatividade em todas as esferas da sociedade.

Foi quando criou a hashtag #aquiestãoasmulheres, “para evidenciar que as mulheres podem ser o que elas quiserem, estão presentes em toda a parte, com destaque e sucesso… Como eu não aguentava mais ouvir alguém dizer que não encontrava porta-vozes, palestrantes ou personagens mulheres, comecei a mostrar uma por dia nos meus posts. E descobri que evidenciar os exemplos positivos é ainda mais engajador.”

União de propósitos

Não é à toa que escolhi Neivia  para ser uma das minhas primeiras entrevistadas na série Protagonistas no YouTube. Afinal, assim como ela, acredito que, além de denunciarmos e evidenciarmos as desigualdades, precisamos dar luz àquelas mulheres que, como ela, já assumiram o protagonismo. Cada vez com mais exemplos mostramos a homens e mulheres que podemos todos ser o que quisermos, e que a igualdade é algo bom para a humanidade, independente de gênero.

 

“Isso dá orgulho, mobiliza e faz querer continuar. Juntos. Mulheres e homens. Porque essa causa é de todos nós. Nossas meninas e meninos têm o direito de crescer sem vieses e estereótipos de gênero. E sonhar em ser aquilo que eles veem todos os dias, em todos os lugares. Afinal de contas, se você pode ver, você pode ser”, finaliza Neivia.

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Rê Spallicci