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De olhos abertos para a vida - Lutador de jiu-jitsu cego supera dificuldades para brilhar no esporte

 16 de julho de 2019
6 min de leitura



Quantas vezes a gente desiste na primeira dificuldade? Ou quantas vezes desistimos antes mesmo de tentar, por medo de errar ou fracassar? Mas, e se na sua vida desistir não fosse uma opção? Se as dificuldades que a vida lhe impôs fossem combustíveis para continuar em frente, sempre!

Pois é assim que Raílton Alves Pereira, 29 anos, encara a vida! Deficiente visual há uma década, ele descobriu no esporte a motivação para lutar e vencer, seja no tatame ou na vida! E é esta história que eu quero compartilhar com vocês. Já que meu propósito de vida é inspirar pessoas, nada melhor do que esta linda jornada de superação!

A superação pelo esporte

Ray, como Raílton gosta de ser chamado, tinha 16 anos quando começou a ter dificuldades para enxergar. A visão dele foi ficando turva, embaçada, e ele procurou um especialista. Após uma série de exames, a pior notícia possível: Ray foi diagnosticado com retinose pigmentar, uma doença hereditária que causa degeneração na retina, região do fundo do olho.

É na retina que as imagens são capturadas a partir do campo visual. A retinose pigmentar afeta primeiramente os fotorreceptores (células sensíveis à luz) responsáveis pela visão periférica e noturna. Devido à doença, estas células – bastonetes e cones – começam a se degenerar, sofrem atrofia e morrem.

Logo, aquele diagnóstico era a sentença de que, em pouco tempo, Ray perderia a visão.

E foi exatamente nesta altura da vida, quando lutava contra a doença, que Ray conheceu e se apaixonou pelo jiu-jitsu, e o esporte foi um enorme aliado para ele não se abater. “Eu conheci o jiu-jitsu quando estava perdendo a visão. E foi muito importante em minha vida… Eu me dediquei muito, mesmo não conseguindo mais enxergar”, conta com satisfação.

Ao longo do tempo, mesmo com todas as dificuldades, o lutador foi se adaptando e construindo o seu “jogo” dentro do jiu-jitsu. “Conforme eu fui perdendo a visão, fui tendo que me adaptar na vida e nas lutas. Sem a visão passei a encarar cada golpe de uma maneira diferente e a agir e pensar por novas perspectivas”, explica.

E qual foi a surpresa de todos quando ele começou suas competições no esporte a lutador,  com oponentes em perfeitas condições, com a visão normal. “Muitas pessoas não me apoiavam e me tratavam como um coitadinho. Falavam que eu não ia conseguir lutar e que poderia me machucar. Em algumas lutas, sentia que os atletas facilitavam para que eu pudesse ganhar”, conta Ray.

Muito treino e dedicação 

Isso o deixava muito chateado, já que Ray queria lutar de igual para igual com qualquer oponente. Para tanto,  treinava ainda com mais empenho   na academia, para que  sua deficiência não o tornasse menor do que ninguém. “Eu tenho muita fé. Isso é apenas mais uma batalha que preciso vencer, eu treino muito todos os dias, com a certeza de que posso enfrentar qualquer um”, disse.

Ele se lembra com tristeza de um episódio:  um atleta oponente quis fechar os olhos para lutar com ele, querendo, assim, tornar a luta mais igual. “Ele dizia que eu não poderia me igualar a ele na questão técnica por ter deficiência visual. Eu fiquei  chateado, ‘balancei’ um pouco, mas segui minha caminhada. Apesar do preconceito, permaneci focado. A minha vontade de vencer é muito maior do que a minha vontade de desistir”, ensina.

Mas é claro que a sua condição o obrigou a desenvolver um novo estilo de luta que o permitisse “enxergar” os golpes, chaves e alavancas. “Quando a pessoa está vendo uma exposição de posição, até mesmo por vídeo-aula, ela consegue aprender algo, um detalhe e ajuste. Eu já tenho que fazer tudo na prática, na exaustão dos movimentos. E também na adaptação do meu jogo, eu sempre tento e busco dar o primeiro ataque no adversário, pois aí minha chance de vencer é muito maior”, diz.

E com todo esse foco, Ray Demolidor, como é conhecido no esporte, foi colecionando títulos. Ele foi campeão pan-americano no Rio de Janeiro, em 2017, como faixa marrom; em São Paulo, no sul-americano, também como faixa marrom,no mesmo ano de 2017;em 2018, foi campeão do Distrito Federal e campeão internacional pro UAE, já como faixa preta. Naquele ano já havia  conquistado o campeonato do centro-oeste e o brasiliense.

Apoio e suporte

Como boa parte dos atletas do País, uma das maiores dificuldades de Ray é o patrocínio, mas ele recebe todo o apoio e suporte da faculdade Mauá de Brasília.“Eles me dão todo o suporte de que preciso.Essa instituição me abraçou como uma mãe. Lá dou aulas de jiu-jitsu e sou aluno de Psicologia’, revela.

Pai de duas crianças, um menino e uma menina portadora de down, ele tem nos seus filhos sua maior inspiração para continuar sempre em busca de novos desafios e vitórias.

“Eu aprendi nesse processo todo que nosso maior desafio é contra a gente mesmo. No primeiro campeonato, depois que me tornei deficiente visual, meu maior obstáculo foi vencer a mim mesmo, quebrando o medo de lutar contra uma pessoa sem deficiência. Foi muito difícil para mim, eu me sentia muito pequeno e muito despreparado, mas eu venci.”

Sim, Ray, você venceu e mostrou que é um verdadeiro gigante! Que você continue demolindo os muros do preconceito e inspirando seus filhos e tantas outras pessoas que, certamente, aprenderam muito com sua jornada!

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