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Carreira

A Siri e a Alexa ameaçam o nosso emprego?

Como a inteligência artificial pode afetar o mercado de trabalho, em especial o das mulheres

 16 de julho de 2020
7 min de leitura

A Siri e a Alexa ameaçam o nosso emprego?

Claro que o título acima é uma provocação! Afinal, as assistentes virtuais não têm atividades ainda assim tão nobres que justifiquem substituir postos de trabalho. Mas essas nossas “amigas” virtuais  são só um byteem, uma montanha de terabytes, do tamanho da transformação no mundo do trabalho que a inteligência artificial ainda vai causar.

Se a revolução da automação for tão radical quanto alguns pesquisadores acreditam, quase metade de todas as ocupações corre o risco de serem substituídas até 2026.

Os caminhoneiros serão trocados por IA autônoma. As fábricas usarão máquinas ainda mais inteligentes e robôs. Os supermercados não terão mais caixas…

E, se esse dado é assustador para a maioria dos trabalhadores, para as mulheres isso pode ser ainda pior. Pesquisa da PwC aponta que 23% das posições de trabalho ocupadas por mulheres correm o risco de acabar na próxima década, em função da automação na área de IA (7% a mais do que se presume para os homens).

O risco às mulheres

O risco às mulheres

Enquanto as mulheres representam apenas metade da força de trabalho, os pesquisadores descobriram que elas compõem 58% dos trabalhadores com o maior risco de automação. Isso ocorre porque, no mercado de trabalho, as mulheres estão mais representadas em ocupações de rotina que podem ser facilmente geridas pela IA, como secretárias, assistentes administrativos, recepcionistas e balconistas.

Além disso, a parcela de mulheres que trabalham como cientistas da computação e analistas de sistemas, desenvolvedores de software e especialistas em suporte a computadores diminuiu desde 2000, deixando a tarefa de moldar o futuro do trabalho principalmente para os homens.

Outro reflexo da automação, e que pode ser também prejudicial às mulheres diz respeito a uma maior demanda por mobilidade e flexibilidade da mão de obra, levando os trabalhadores a precisarem viajar mais entre unidades da mesma empresa, tanto nacional como internacionalmente.

E, de novo,  a diferença de gêneros pode ser um empecilho. As mulheres costumam ter menos disponibilidade para se ausentarem de suas casas,  porque gastam muito mais tempo do que os homens no trabalho doméstico não remunerado.

Isso sem contar que também, em virtude dessa discrepância nos cuidados com a família e o lar, as mulheres são frequentemente excluídas das redes de liderança que permitem aos homens aprimorar suas habilidades, encontrar mentores e identificar oportunidades de emprego. Soma-se a esses fatos um viés inconsciente que ainda faz com que muitas pessoas associem traços de liderança aos homens.

A automação também pode prejudicar mais os salários das mulheres do que o dos homens. Enquanto os empregos de alto risco de substituição que os homens ocupam são predominantemente de salários mais baixos– caminhoneiros, operários, trabalhadores da construção civil – as ocupações de alto risco, que são dominadas por mulheres, oscilam mais ao longo de um espectro de alta e média remuneração.

Também há oportunidades

Também há oportunidades

Mas calma! Nem tudo está perdido, e a automação não será o fim da mulher no mercado de trabalho!

Sabemos que os algoritmos podem aumentar a tomada de decisão humana, encontrando correlações inesperadas em grandes conjuntos de dados. Isso permitirá que as máquinas substituam alguns trabalhos que exigem tarefas rotineiras, ajudem em outras tarefas e, finalmente, criem trabalhos completamente novos.

Por isso, apesar de todos os prognósticos, há alguns futuristas que acreditam que as mulheres têm também uma janela de oportunidades com a Inteligência Artificial. Por quê? Algumas das habilidades mais valorizadas em uma força de trabalho assistida por IA estarão em áreas onde os robôs ficam aquém: inteligência social e emocional.

Um novo relatório dos consultores Capgemini descobriu que 83% das organizações pesquisadas acreditam que uma força de trabalho com alto grau de inteligência emocional será um requisito para o sucesso nos próximos anos.

Se o mercado de trabalho valoriza empatia, multitarefa, colaboração e compaixão – atributos historicamente associados às mulheres -, então, elas, segundo o argumento, podem ter uma chance maior de serem recrutadas e retidas.

Mas há um porém que faz toda a diferença. Para florescer em uma força de trabalho orientada por inteligência artificial, será necessário um grau significativo de reciclagem e adaptação.

Os riscos reais para a força de trabalho feminina não estão nos tipos de emprego para os quais são adequadas, mas na possibilidade de fazer transições suaves. As mulheres serão capazes de se qualificar e entrar em contato com ocupações novas e adjacentes, à medida que as demandas trabalhistas mudarem?

Um relatório de junho do McKinsey Global Institute examinou essa questão em dez países, incluindo seis economias desenvolvidas e quatro emergentes. Eles descobriram que mulheres e homens enfrentam uma escala semelhante de possíveis perdas e ganhos de emprego, com uma média de 20% das trabalhadoras, ou 107 milhões de mulheres, potencialmente deslocadas pela automação até 2030, em comparação com os homens –  de 21%.

Mas o relatório também sugeriu que até 160 milhões de mulheres, em todo o mundo (e 274 milhões de homens),  podem precisar fazer a transição entre ocupações para permanecer no trabalho. “Se as mulheres tirarem vantagem das oportunidades de transição, poderão manter sua parcela atual de empregos; se não puderem, a desigualdade de gênero no trabalho poderá piorar ”, escreveram os autores.

Assim, embora possamos celebrar que a era das máquinas pode valorizar as chamadas “habilidades sociais”, como empatia e comunicação, precisaremos continuar a focar nos aspectos banais do trabalho em 2030, para que as mulheres sejam incluídas nos processos de construção das novas práticas trabalhistas, bem como nas políticas públicas de inclusão e capacitação.

A pergunta que devemos fazer então seria: as mulheres terão acesso às mesmas redes, educação e oportunidades que seus colegas homens? Se a resposta for não, um mundo dominado pelas  Siris e Alexas não parecerá tão diferente, afinal.

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Rê Spallicci