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Carreira

As previsões econômicas para 2020

Marco Aurélio Bedê, doutor em Economia pela USP e analista da Unidade de Gestão Estratégica (UGE) do Sebrae-NA, explica como a economia do Brasil e do mundo deve se comportar em 2020.

 9 de janeiro de 2020
8 min de leitura



Estamos nos primeiros dias do ano,  momento ideal para tentar entender um pouco como andará a economia do nosso País no decorrer dos próximos 12 meses. Afinal,  para quem é assalariado, empreendedor, pequeno médio ou grande empresário, os reflexos do cenário macroeconômico, certamente, têm impactos em nossa vida. Por isso, conversei com  Marco Aurélio Bedê, doutor em Economia pela USP e analista da Unidade de Gestão Estratégica (UGE) do Sebrae-NA, que me falou um pouco sobre como a economia do Brasil e do mundo deve se comportar em 2020. Acompanhe:

O cenário macroeconômico do Brasil e do Mundo  

Renata Spallicci – Qual a previsão para a economia do País em 2020 em um cenário de juros baixos e dólar alto?

Marco Aurélio Bedê – A economia brasileira deve crescer próximo de 1% em 2019. O que temos visto, nos últimos tempos, é que a inflação está bastante baixa, sob o ponto de vista histórico, o que tem permitido ao Governo trabalhar com uma política monetária de juros baixos. Sob o ponto de vista histórico, a taxa Selic, a taxa básica do mercado, encontra-se no nível mais baixo já registrado. O cenário econômico é de famílias relativamente desaquecidas, a taxa de desemprego ainda elevada e a excessiva capacidade ociosa na economia. A política monetária de juros básicos baixos visa, inclusive, servir de estímulo ao consumo, com vistas a chegarmos a um nível de atividade mais alto. Nesse sentido, os juros baixos devem ajudar a economia a continuar seu processo de recuperação. Logo, é de se esperar que, em 2020, percebamos a continuidade da recuperação da economia. O Real, por sua vez, está um pouco mais desvalorizado em relação ao dólar do que há um ano. Possivelmente, deve permanecer nesse patamar ou até mesmo  se desvalorizar um pouco mais. Isto favorecerá os exportadores, outro componente importante para a retomada do crescimento. O nível atual do câmbio (R$ 4,25) não deve ser visto, ainda, como um motivo de preocupação. Isto porque, além da elevada capacidade ociosa da economia brasileira, em termos reais, o Real já esteve bem mais desvalorizado. Em janeiro de 2016, por exemplo, quando se deu o início do impeachment de Dilma, o Real chegou a estar quase 5% mais desvalorizado. Portanto, um dólar até R$ 4,50  é um patamar que ainda não causa preocupação. Outro exemplo: na véspera da primeira eleição de Lula para presidente, em 2002, em termos reais, o dólar estava mais de 70% mais caro que o nível atual. Ou seja, ainda estamos longe de um nível insustentável de desvalorização cambial. Mas, ainda assim,  se deve ter em mente que, à medida que o crescimento seja retomado, o dólar caro pode implicar em potencial inflacionário. Porém,  isso será um problema a ser resolvido depois da recuperação. O desafio atual  é dar sequência à recuperação da economia.

Renata Spallicci – E acredita-se que este cenário de juros e câmbio deve ser mantido?

MAB –Sim. Os juros continuarão baixos até que a economia dê sinais mais robustos de recuperação. Os juros só voltarão a  aumentar depois que se verifique uma maior ocupação da capacidade produtiva e a inflação volte a ser pressionada. Por sua vez, o câmbio deve continuar alto, por várias razões. Uma delas é o aumento das incertezas no cenário externo, em particular, por conta da guerra comercial entre USA e China. Essa guerra comercial está longe de acabar, e sua principal consequência é a redução do crescimento mundial. Nesse cenário, os capitais estrangeiros tendem a voltar para os seus países de origem, prejudicando economias, como a brasileira, que dependem desses fluxos de capitais. Na medida em que eles tendem a voltar para seus países, aumenta a procura por dólares encarecendo o câmbio. A única forma desse cenário se alterar seria com o fim da guerra entre USA e China, mas este é um cenário pouco provável para 2020.

Renata Spallicci – Muito se falava do impacto da reforma trabalhista no mercado de trabalho, mas tais impactos ainda não foram sentidos. O senhor acredita que em 2020 teremos reflexos com diminuição do desemprego?

MAB – A taxa de desemprego no Brasil tende a ser reduzida em 2020. Principalmente porque a lenta retomada da economia deve ser mantida. Possivelmente, o PIB brasileiro deve crescer próximo de 2%, em 2020, por conta dos juros mais baixos. Outros fatores também devem favorecer a queda do desemprego. As reformas, primeiro a trabalhista, e segundo, a previdenciária, favorecem a recuperação da economia e a redução do desemprego, no longo prazo. Mas elas sozinhas não são suficientes para isso. É preciso que a confiança volte a crescer e que os investimentos sejam retomados. Não existe uma única variável que resolva tudo. É preciso um conjunto delas para que a economia retome, de fato, um processo de crescimento mais robusto.  

Renata Spallicci – Quanto às reformas, como  podem impactar a economia em 2020?

MAB – Elas já estão impactando. As mudanças nas regras trabalhistas já dão aos investidores a visão de que o mercado de trabalho, no Brasil, está um pouco mais flexível que no passado. E, se ainda não houve um aumento substancial do emprego, é por conta da confiança e dos investimentos privados que ainda estão baixos e necessitam ganhar corpo. A reforma da previdência já permitiu mudar o cenário para as contas públicas na próxima década. As projeções de “trajetória explosiva” para a dívida pública (como proporção do PIB) foi substituída para um “nível administrável”. Assim, antes, caminhávamos para um desastre em termos de contas públicas e de economia. Agora, existe espaço para a reorganização das contas públicas e, quem sabe, se caminharem as reformas administrativas e tributárias, até a recuperação da capacidade de investimento do Estado.

Renata Spallicci- Quais os maiores riscos para a economia no País em 2020? Há algum fator externo que pode afetar positiva ou negativamente?

MAB – Atualmente, o maior risco que vem de fora é a guerra comercial entre EUA e China. Ela já vem desacelerando a economia mundial que, atualmente, cresce perto dos 3% a.a.. Mas, a economia internacional ainda está crescendo em níveis superiores ao da economia brasileira (1% a.a.). O problema é que, se houver uma ampliação dessa guerra, prejudicará todos, inclusive o próprio EUA, ator principal nesse processo. No limite, pode haver uma retração forte do ritmo de crescimento da economia mundial, o que não fará nada bem à economia brasileira que, atualmente, como já exposto, está apenas começando seu modesto processo de recuperação.

Bom, é isso! Espero que tenham curtido e tenho a certeza de que teremos um ano mais equilibrado em 2020! Muito sucesso a todos nós!!

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Rê Spallicci