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Carnaval

Daniel Manzioni: pioneiro e ainda único Rei do carnaval de avenida

Rei da Acadêmicos do Tatuapé mostrou sua força para sambar na cara do preconceito.

 26 de fevereiro de 2019
6 min de leitura



No final de semana, chega o tão esperado Carnaval. Para mim, o mais especial de todos, já que, depois de anos tendo este sonho, finalmente terei a oportunidade de estrear na avenida e, logo de cara, como Musa da Bateria da Acadêmicos do Tatuapé!

Certamente, o que mais me marcará nestes dias de vivência intensa com o mundo do Carnaval,  serão as pessoas que cruzaram o meu caminho! E uma delas é o Daniel Manzioni, o Rei da Corte da Acadêmicos do Tatuapé, que me acolheu, ajudou e inspirou em cada ensaio, em cada encontro.

Um sambista apaixonado, talentoso e, acima de tudo, um ser humano com uma energia ímpar e especial! E que tem uma história maravilhosa que vou compartilhar com vocês.

O esporte como salvação

Daniel Manzioni o Rei da Corte da Acadêmicos do Tatuapé

Daniel era um adolescente altamente tímido. Por causa de seu perfil introvertido, não raro era vítima de bullying e de perseguição dos  colegas. Somente no quarto, sozinho e longe dos olhares de todos,  é que ele realmente se alegrava, dançando e usando seu corpo como forma de expressão artística.

A música e os movimentos corporais eram sua salvação e alegria. Mas como estes momentos eram poucos comparados ao calvário da convivência social, aos 15 anos, Daniel entrou em uma depressão que o levou a uma severa síndrome do pânico.

Até que um fato o salvou: sua mãe frequentava uma academia e entendeu que os exercícios poderiam fazer bem ao filho. Com a ajuda do  pai, Daniel tomou coragem e foi pela primeira vez à academia! Não parou mais… até hoje!

“O esporte e a dança certamente foram a minha salvação”, comenta o hoje educador físico, dançarino e coreógrafo.

A história no Carnaval

Daniel Manzioni, o Rei da Corte da Acadêmicos do Tatuapé - Sambódromo

Se aos 16 anos a academia salvou a vida de Daniel, aos 19, o samba a tornou mais alegre e vibrante. Em 1997, ele começou a frequentar a escola de samba Camisa Verde e Branco, e o amor pelo samba o contagiou totalmente.

“Carnaval para mim é vida! Nenhuma palavra define melhor: Vida! Somente isso.”

Mas foi em 2005 que o carnaval realmente lhe proporcionou a  redenção. Uma pequena escola de samba da USP o convidou não somente para desfilar, mas para ser o rei da bateria, um posto até então inexistente no carnaval.

“Como naquela época  as baterias eram formadas quase que 100% por homens, era normal que houvesse as musas e rainhas de bateria… Mas um rei? Era uma novidade.”

Como todo pioneiro, ele pagou o preço pela inovação e ouviu ofensas, xingamentos e foi vítima de preconceito. “Mas não me abati. Peguei cada crítica como combustível para melhorar a cada dia ”, relata.

Mas houve quem enxergasse a inovação com bons olhos. A Acadêmicos do Tatuapé curtiu a ideia e convidou Daniel para integrar a escola, também como Rei. De lá para cá, ele esteve à frente da bateria em todos os anos, como o primeiro, e até agora único, Rei da bateria das escolas de samba do eixo Rio-São Paulo.

No ano passado, ele foi promovido a Rei da Escola!

Campeão do Samba

Hoje, aquele  garoto meio gordinho e tímido que mal conseguia olhar para as pessoas, anima multidões com seu samba no pé e alegria contagiante. É modelo, professor de educação física e uma estrela do Carnaval Paulistano. Mais do que isso, um pioneiro que abre portas para que novos reis surjam, dando um fim ao preconceito.

“Hoje vejo que as escolas já têm muito mais passistas homens do que no passado e acredito que fui importante neste processo. Tenho a esperança de que, assim como hoje as mulheres na bateria já são muitas, logo todas as escolas possam ter o seu rei para inspirá-las”.

Aos que virão depois dele, Daniel dá a receita para um verdadeiro Rei: “humildade, amor ao que faz, paixão pelo samba e muita simpatia com o público e com a comunidade e o pavilhão que está defendendo!”

Se um rei é também sinônimo daquele que recebe bem seus novos súditos, eu, como Musa da Bateria, posso comprovar que Daniel é realmente especial. Para mim é uma alegria e orgulho enorme estar ao seu lado e lutar com todas as forças pela cor da nossa escola. Mais do que isso, é uma honra saber que, assim como eu, ele nada contra a corrente, contra preconceitos e vive a sua vida intensamente, com autenticidade, paixão e brilho nos olhos.

“Pelo que vi nos ensaios, tenho fé de que iremos buscar o tricampeonato”, Daniel me diz,  ao encerrar o nosso papo. Mas independente do resultado na avenida, alguém duvida de que este rei já não é um campeão?

 

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Rê Spallicci